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Impactos das Novas Tarifas dos EUA sobre o Alumínio Brasileiro na Indústria de Fundição

A recente decisão do governo dos Estados Unidos, anunciada em 2 de junho de 2025, de elevar de 25% para 50% as tarifas de importação sobre produtos de alumínio, com base na Seção 232 do Trade Expansion Act, tem gerado preocupações significativas para a indústria brasileira do alumínio, incluindo o setor de fundição. A Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) manifestou sua apreensão com os impactos dessa medida, que amplia incertezas e reforça a necessidade de estratégias de defesa comercial e uma visão de longo prazo para reposicionar o Brasil nas cadeias globais de suprimento. Este artigo analisa como essas tarifas afetam a indústria de fundição brasileira, destacando os desafios e oportunidades para o setor, com base em fontes complementares que ampliam a compreensão do cenário.


Contexto da Medida Tarifária

A nova tarifa, que entrou em vigor em 4 de junho de 2025, é aplicada globalmente, com exceção temporária ao Reino Unido, cuja alíquota permanece em 25% até 9 de julho de 2025, enquanto os dois países finalizam um acordo bilateral. A medida, segundo o governo norte-americano, visa proteger a indústria doméstica e a segurança nacional. No entanto, para o Brasil, que exportou 72,4 mil toneladas de produtos de alumínio para os EUA em 2024 (13,5% do total exportado), os impactos são significativos, especialmente para produtos como chapas e folhas, que representam 76% desse volume.

Além disso, cerca de 90% do alumínio primário produzido nos EUA utiliza insumos brasileiros, como bauxita e alumina, evidenciando a complementaridade produtiva entre os dois países. Essa interdependência, no entanto, não foi suficiente para evitar a imposição da tarifa, que pode comprometer a competitividade do alumínio brasileiro no mercado americano e gerar impactos indiretos no mercado interno, incluindo o setor de fundição.


Impactos na Indústria de Fundição Brasileira

A fundição de alumínio é um elo crucial da cadeia produtiva, transformando o metal em peças e componentes para setores como automotivo, aeroespacial, construção civil e bens de consumo. A nova tarifa americana impacta diretamente esse segmento de diversas formas:

  1. Redução da Competitividade nas Exportações: Com a tarifa de 50%, os produtos brasileiros de alumínio, incluindo os fundidos, tornam-se menos atrativos no mercado americano. Em 2024, os EUA absorveram 16,8% das exportações brasileiras de alumínio, movimentando US$ 267 milhões. A elevação da tarifa pode reduzir esse volume, impactando empresas que dependem do mercado externo para escoar sua produção.

  2. Risco de Desvio de Comércio: A ABAL alerta para o risco de saturação do mercado interno brasileiro devido ao desvio de comércio. Produtos de outros países, como a China, que perderem acesso ao mercado americano, podem ser redirecionados ao Brasil a preços desleais, pressionando os produtores locais, incluindo as fundições. Isso pode afetar a rentabilidade e a competitividade das empresas do setor, que já enfrentam uma carga tributária interna mais elevada (30% a 35%) em comparação com produtos importados (15% a 22%).

  3. Aumento dos Custos de Produção: A fundição depende de insumos como alumínio primário e ligas, cuja disponibilidade e preço podem ser afetados pelas mudanças nos fluxos comerciais globais. A elevação dos preços regionais, especialmente em mercados dependentes de importações, pode aumentar os custos de produção para as fundições brasileiras, reduzindo margens de lucro e impactando setores que utilizam peças fundidas, como a indústria automobilística.

  4. Impacto na Cadeia de Reciclagem: O Brasil é referência global na reciclagem de alumínio, com 60% do metal consumido no país proveniente de sucata, o dobro da média global. A nova tarifa americana, que não incide sobre sucata de alumínio, pode incentivar a exportação desse material, comprometendo a disponibilidade para fundições locais que dependem da reciclagem para reduzir custos e atender à demanda por produtos sustentáveis.



Oportunidades e Respostas Estratégicas

Apesar dos desafios, a ABAL destaca que o Brasil possui ativos únicos que podem ser aproveitados para mitigar os impactos e fortalecer a indústria de fundição:

  • Vantagens Competitivas Estruturais: O Brasil detém a 4ª maior reserva mundial de bauxita e é o 3º maior produtor de alumina, com uma cadeia produtiva verticalizada e investimentos crescentes em energia limpa. Esses fatores posicionam o país como um benchmark em sustentabilidade, especialmente na produção de alumínio de baixa emissão de carbono, que é altamente valorizado em mercados globais exigentes.

  • Fortalecimento da Defesa Comercial: A ABAL defende um "duplo movimento" que combina medidas emergenciais, como o reforço de instrumentos de defesa comercial e ajustes tarifários para conter práticas desleais, com uma visão estratégica de longo prazo. Para as fundições, isso significa pressionar por políticas que protejam o mercado interno contra a concorrência desleal e garantam acesso a insumos a preços competitivos.

  • Inovação e Sustentabilidade: A certificação da cadeia produtiva pelo Aluminium Stewardship Initiative (ASI) e a baixa densidade carbônica do alumínio brasileiro (4,5 a 6,5 toneladas de CO2 por tonelada, contra a média global de 16 toneladas) são diferenciais que podem atrair novos mercados, como a União Europeia, que valoriza produtos de baixa emissão. Fundições brasileiras podem investir em processos que destacam esses atributos, agregando valor aos seus produtos.

  • Negociações Bilaterais: O acordo temporário com o Reino Unido, que mantém a tarifa de 25% até julho de 2025, sugere que negociações bilaterais podem ser uma saída. A ABAL está em diálogo com o governo brasileiro para buscar soluções que mitiguem os impactos e explorem acordos de cotas ou isenções, como os negociados em 2018 por outros países.


Recomendações para o Setor de Fundição

Para enfrentar esse cenário, as fundições brasileiras devem adotar estratégias proativas:

  1. Diversificação de Mercados: Com a redução do acesso ao mercado americano, as empresas devem buscar novos destinos para suas exportações, como a União Europeia e a Ásia, onde a sustentabilidade do alumínio brasileiro é um diferencial competitivo.

  2. Investimento em Eficiência: Otimizar processos produtivos e investir em tecnologias que reduzam custos e emissões pode ajudar as fundições a manterem a competitividade, mesmo em um cenário de aumento de preços de insumos.

  3. Fortalecimento da Cadeia de Reciclagem: Parcerias com recicladores e políticas que incentivem a retenção de sucata no mercado interno podem garantir a oferta de matéria-prima a preços acessíveis.

  4. Colaboração com o Governo: As fundições devem apoiar os esforços da ABAL em dialogar com o governo brasileiro para implementar medidas de defesa comercial e políticas tarifárias que protejam a indústria nacional.


A escalada tarifária dos EUA sobre o alumínio brasileiro representa um desafio significativo para a indústria de fundição, com impactos diretos nas exportações, custos de produção e competitividade no mercado interno. No entanto, as vantagens competitivas do Brasil, como sua cadeia produtiva verticalizada, alta taxa de reciclagem e matriz energética limpa, oferecem uma oportunidade única para reposicionar o setor na cadeia global. Com uma resposta estratégica que combine defesa comercial, inovação e diversificação de mercados, as fundições brasileiras podem transformar esse cenário de incertezas em uma janela de oportunidade para fortalecer sua posição no mercado global do alumínio.


Fontes:

  • Associação Brasileira do Alumínio (ABAL). "Posicionamento: Nova escalada tarifária dos EUA sobre o alumínio brasileiro". Disponível em: https://abal.org.br/noticia/posicionamento-nova-escalada-tarifaria-dos-eua-sobre-o-aluminio-brasileiro/.

  • G1. "Tarifas de 50% sobre aço e alumínio entram em vigor nos EUA; entenda os impactos para o Brasil". Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/06/03/tarifas-de-50-sobre-aco-e-aluminio-entram-em-vigor-nos-eua-entenda-os-impactos-para-o-brasil.ghtml.

  • BBC News Brasil. "Tarifa para aço e alumínio: Trump ordena aumento da taxa de importação para 50%". Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c9w0j7z7j7yo.

  • Valor Econômico. "Taxado em 25% desde março, setor de alumínio alerta para impactos das novas tarifas de Trump". Disponível em: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2025/04/02/taxado-em-25-desde-marco-setor-de-aluminio-alerta-para-impactos-das-novas-tarifas-de-trump.ghtml.


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